A DANÇA QUE DIGIRO (2011-15)
O que acontece comigo se eu retiro minha identidade? Para onde vai a minha comunicação e de que forma?
A Dança que Digiro é um trabalho que reflete sobre a produção de dança do ventre feita no Brasil nos últimos anos, onde a compreensão do que vem a ser dança e dançarina (o) se resume a uma estética de reprodução.
Afinal, com o que se dança?
O brasileiro é uma esponja capaz de absorver quase tudo o que lhe chega. Sua própria formação étnica e cultural é diversa e ambígua. É possível reconhecer um brasileiro em qualquer ponto do globo, da mesma forma que não é possível definir com precisão o que é ser um brasileiro.
Se de um lado o artista brasileiro apresenta uma inesgotável capacidade de adaptação, re – criação e apropriação, do outro, ele precisa estar atento aos limites desta mesma apropriação, re-criação e adaptação. Afinal, estamos lidando com identidades.
Como é o caso da dança do ventre.
O fato de não ser uma dança brasileira apresenta razões suficientes para que os seus adeptos se dediquem a um profundo estudo não só da dança, mas de sua cultura.
Este é um ponto.
Se ampliarmos um pouco mais esta conversa, podemos pensar que ao tomar a decisão de levar uma dança para o palco, e compartilhá-la com uma platéia, passamos a entrar em um campo ainda mais específico. Podemos dizer que para além do estilo ou da técnica, estamos falando de DANÇA.
Cabe aqui questionar mais uma vez, então: O que é dança?
Desta simples, porém complexa pergunta, outras tantas surgem: O que é ser um profissional da dança? Qual é a dança que eu escolho levar para o palco e de que forma? O que é ou quem é este corpo brasileiro que dança uma tradição que não é sua? Como fazer este link de experiências culturais? E por aí vai...
Dança é sinônimo de comunicação. Sabe-se disso desde as danças sagradas, onde se movia o corpo para celebrar nascimentos, cheias de rios, plantios e colheitas, assim como para conduzir almas dos mortos, para honrar a deuses e seus ancestrais, etc.
A dança do ventre, ou a dança do leste é uma destas danças sagradas!
Milenar, surgida no antigo Egito, esta dança resistiu ao tempo, ganhou o mundo e se reinventa ainda hoje dentro de cada nova cultura.
Mas não deixa de ser dança do ventre... Nem deixa de ser dança.
Desta forma, a performer decide experimentar em seu corpo a dança enquanto comunicação de algo que se utiliza de uma linguagem específica: técnicas da dança do ventre + olhar contemporâneo sobre esta dança. Para tanto, opta por retirar o símbolo mundial de identidade (rosto) e os elementos tradicionais da dança do ventre (figurino típico, acessórios, maquiagem e cabelo) ficando com o aparelho digestivo à mostra (lugar por onde me alimento), para que livre das “armadilhas” ou, livre dos clichês desta dança, seu corpo inteiro possa ir de encontro à investigação que permite novas leituras sobre a dança.
Uma particularidade desta dança-performance é que ela sofre atualizações a cada apresentação, fazendo uma referência ao cotidiano que nos trás modificações dentro de sua repetição.
Essa performance aberta circulou por Belo Horizonte, São Paulo, Salvador, Berlim, Hamburgo/Ale, Amsterdam/Hol.
Duração: 20 minutos
Concepção, criação, atuação, luz e trilha sonora: PRISCILA PATTA
FIgurino: SILMA DORNAS e FERNANDA FEHLBERG
Fotografia: JANICE PIRES